Há pouco tempo, escrevi um texto aqui sobre Violência Emocional
e o deletei. Fiz isso pois, o texto foi escrito em um momento de emoção que
estava reprimida, sobre um assunto que há muito tempo eu queria falar, mas não tinha coragem. Escrevi e me arrependi por inúmeros fatores, mas agora com a cabeça fria estou disposta
a reescrever sobre o assunto.
Tive um relacionamento de três anos que me destruiu por
dentro, tamanhas eram as violências sutis que eu passava todos os dias. Dentre
as formas de violência sofridas, estavam: provocar ciúmes de maneiras
explícitas e depois me convencer que eu era louca, via coisa onde não tinhar;
sumir por dias sem deixar contato, depois aparecer como e nada tivesse
acontecido;ignorar meus apelos para ser ouvida e vista, ficar em silêncio
sepulcral enquanto eu me debulhava em lágrimas ou rir da situação; provocar em
mim ataques de fúria e raiva, fazendo com que eu não me reconhecesse, falasse
coisas horríveis e depois chorasse achando que a culpa era minha; ignorar meus
problemas pessoais e insinuar que eu tinha uma vida perfeita perto da dele; me
ignorar perto de amigos, como se eu não estivesse ali; me comparar direta e
indiretamente a outras mulheres do passado ou presente, flertar com outras na
minha presença; etc, etc, etc.
Nem preciso dizer o quanto eu me sentia um lixo, não é
mesmo? É claro que por eu ter ficado com essa pessoa 3 anos, existiam
qualidades e bons momentos, pelos quais eu me prontifiquei a lutar. Mas demorei
a notar que apenas gostar de alguém, e essa pessoa jurar de pés juntos que
gosta de você, não é o suficiente para continuar em um relacionamento doentio,
onde o outro em vez de querer te erguer e te ver progredir junto com ele, mina
sua autoestima, rebaixa suas conquistas e disputa com você, quase em um
movimento de inveja e competição, para ver “quem é melhor”.
O perfil do agressor para as pessoas de fora é sempre de
alguém bonzinho, amável, gente fina. Quando você tenta contar para alguma
pessoa o que você está passando, ninguém acredita em você, todos o defendem por
ser “um anjo” e tentam te convencer que é você quem está vendo coisas, é você
que está sendo incompreensiva. Ainda mais quando vêem você sendo presenteada
com ursinhos, flores, cartas, pedidos de perdão e todos ficam abismados em como você “reclama
com a barriga cheia, queria eu ter um marido romântico assim”. Isso se agrava
quando a pessoa em questão teve uma vida difícil e tudo é justificado pela
família desestruturada, pelo emprego exaustivo, pelo passado triste. Tudo se
vira contra você, e você se sente culpada por ter tido uma família estruturada,
uma condição de vida que te permitiu estudar sem se preocupar com trabalho até
quando pode, por ter tido o privilégio de nunca ter passado fome. Toda a
agressão do agressor, passa a ser justificada, e você, tem que entender o lado
dele, já que o mesmo teve uma vida sofrida. É um pesadelo, é uma prisão. Você,
vítima, se torna a vilã.
Falando da pessoa com quem convivi, sei que a grande maioria
das atitudes agressivas foram inconscientes, sem a intenção real de me ferir
propositalmente, eram reproduções do que já havia vivido. Mas nunca se deve
usar isso como uma forma de se autoconvencer que a pessoa irá mudar com o
tempo, porque ela não vai! O que se pode fazer nesse caso é propor um
tratamento ao agressor e esperar que este tome consciência de seus próprios
fantasmas, mas jamais se submeter a um relacionamento doente acreditando que
este irá mudar.
Consegui sair dessa e não desejo mal algum a ninguém, muito
pelo contrário, quero mais é que se reerga e consiga levar sua vida em frente sem
magoar nem a outra mulher e nem a si mesmo. Ainda vejo em mim muitas marcas
desses traumas quando sem querer, acabo refletindo alguns medos e inseguranças
no meu novo relacionamento, mas posso dizer que estou muito melhor. A ajuda
psicológica que eu já tinha em terapia me ajudou muito a superar, e meu novo
relacionamento também.
Tudo é passageiro, basta querer seguir em frente.

Essas sutilezas doloridas vividas, que só a gente sente e sabe (e acredita) nos relacionamentos, pq via de regra o parceiro/a age diferentemente no mundo social, são de um potencial destruidor ímpar, minam a gente e nos implodem numa demolição às vezes silenciosa. Já passei por isso, e me cobro muito por nunca mais permitir que alguém faça de novo, sim pois muitas vezes no desejo de manter relacionamentos a gente se deixa submeter a isso por um tempo, quando de imediato devemos dizer um "basta". Essas coisas deixam marcas na gente que nao passam, tal qual ferro quente no couro.
ResponderExcluirTudo passa, quando não estamos agarrados a esse "tudo"... ; ) Vida longa e descobertas permanentes
Olha Day, acho que não só na violência psicologica, mas também na verbal e na física, ainda existe gente que vai vitimizar o agressor ainda mais quando a mulher é quem sofre as agressões, por que ela sempre "merece", ela "gosta de apanhar", de sofrer etc, etc, etc... As pessoa não sabem a história daquela mulher e gostam de julgar... Nada justifica o cara fazer isso.
ResponderExcluirBeijo
O tempo ruim vai passar (no caso, passou). É só uma fase. O sofrimento alimenta mais a sua coragem.
ResponderExcluirE assim segue a roda.
Descreveu em detalhes meu antigo relacionamento!Ainda bem que passou!
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