Passei a calçar sapatos quando percebi que estar descalça
era mal visto, que minha imagem despertava liberdade e selvageria, tudo o que
uma mulher não pode ter. E logo apareceu
um par que apesar de muito desconfortável, tinham uma boa aparência e me dava
um status respeitável. O calcei durante longos anos e a medida que fui
crescendo, ele apertava, dava calos, prendia meus passos, torturava meus pés e
eu não conseguia mais sentir a natureza
da qual faço parte. Como na história original de Cinderela, chegaria um momento
em que seria necessário decepar meu dedo ou calcanhar para continuar cabendo no
sapatinho de cristal. Doeu me desprender
de algo que me serviu por tanto tempo, mas antes que eu me livrasse de pedaços
meus, joguei meus sapatos fora!
Foi estranho sentir novamente os quatro elementos roçando e machucando
novamente meus pés, mas percebi que apesar de sensíveis pela época em que
passaram abafados, continuavam fortes, ágeis e desejosos de sentir na pele o mundo.
Muitos dos que ainda usam os sapatos que me apertavam preferiram
decepar a si mesmos para continuar os calçando e sendo bem aceitos pelos que
tem medo de andar com os pés no chão. A grande maioria deles não caminha mais
ao meu lado. Permiti-me até mesmo calçar
sapatos novos, muito mais confortáveis!, aos quais recorro sempre que meus pés precisam de um alívio
pela brutalidade do asfalto , mas não tenho mais a necessidade de proteger-me
de todas as experiências que a jornada me proporciona. Decidi voltar á minha
natureza ,olhando para trás e tendo o prazer de ver a marca de minhas próprias pegadas

lindo texto. A liberdade de ser a natureza que somos.Bjs
ResponderExcluirTexto lindo, Day!
ResponderExcluirOriginal e sensível seu texto. Gostei muito!
ResponderExcluirExcelente!
ResponderExcluirExcelente!
ResponderExcluir