De fato, ano passado comecei a procurar lugares onde eu pudesse desenvolver minhas necessidades espirituais. Minha mediunidade é bastante aflorada e não adianta: se eu não me cuido, sucumbo.
A religação com a espiritualidade me trouxe mudanças vistas,mas nenhuma delas veio da paz, mas do caos!
O Caos de atravessar a comunidade para ir para o centro espírita, de levar duas horas para ir e duas para voltar de um curso cheio de preconceitos (pago, diga-se de passagem), mas que me dava um certo respaldo sobre minhas questões. O caos de meditar de madrugada com os sons das balas perdidas, cachorros latindo,guardinha passando e os moleques da rua brigando. O caos de pagar R$70 parcelado nas “trocas de energia”. De ter parado a terapia, que eu já fazia de 15 em 15 dias com preço popular, para poder investir na espiritualidade. O caos de atender por quase 3 anos pessoas em grande sofrimento social,sofrendo ameaças constantes E agora, novo caos de mais 3h00 de transporte público tds os dias para trabalhar com 30 alminhas a cada 45 minutos, que muitas vezes não tem o que comer em casa.
E eu tenho sorte!
Tenho papai que levanta para preparar meu café da manhã. Tenho mamãe que faz o meu almoço, lava e passa minhas roupas. E eu ainda faço cara de nojo quando a janta é frango e atraso a conta de telefone por que eles ainda tem a pachorra de entender que esse mês gastei muito comigo mesma!
Eu sei que tenho privilégios por poder parar e pensar criticamente sobre a minha espiritualidade, por ela não precisar ser minha única alternativa para esquecer uma vida de miséria. E esse privilégio veio não apenas depois que eu percebi dentro de mim mesma que eu precisava me libertar, mas quando eu comecei a circular espaços diferentes, que me mostravam que Deus não estava só dentro da igreja autoritária que condenava a mulher que cortasse o cabelo. Para eu perceber que Deus não me mandaria para o inferno por usar calça ou fazer sexo, eu precisei de oportunidades!
Quem consegue pensar criticamente sobre o espiritual trabalhando 12h? Quem consegue pensar numa alimentação sem carne e livre de agrotóxicos?
Toda vez que eu ouço sobre “O Sagrado feminino somos todas irmãs namastê”, eu penso nas mulheres em situação de rua que atendi que nem sequer podiam escolher entre comprar um absorvente ou uma pedra de crack com os 5 conto que conseguiram se prostituindo.
Eu não sou zen não!Eu tento me equilibrar para conseguir entender esse caos!
Eu quero paz só se ela for provinda da mudança!

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