Sou graduada e pós
graduada, sendo a graduação possibilitada pelo PROUNI. Atuo como educadora desde 2008 e desde então, tenho
frequentado diversos círculos sobre educação em todas as instituições que
passei. Nesses círculos, a grande maioria das pessoas tem o perfil de virem de
famílias já de educadores e artistas, escolas particulares e bairros
privilegiados de São Paulo, ou seja, uma realidade muito diferente da que vivi.
Sou filha de pais que terminaram o colegial depois de adultos no EJA
(Educação de Jovens e Adultos) e a primeira mulher a ter um curso superior na família.Me graduei em uma boa universidade particular em um Campus situado próximo ao meu bairro, então o perfil econômico e cultural das pessoas não era tão diferente do meu, mas os discursos acadêmicos já me incomodavam em questões que explorarei adiante.
Fiz vários cursos de extensão universitária por universidades públicas e outros de formação como educadora. Em muitos
deles, trabalhamos a questão do índio e
do negro em ambientes acadêmicos, o que muito me incomodava, já que olhando ao
redor, há pouquíssimos negros e nenhum índio que possa levantar sua fala. Me
perguntava : “Quem somos nó para estudarmos e debatermos se o índio deve ou não
se envolver no que achamos ser civilização? Quem sou eu, garota branca, pra dar
uma opinião segundo tantos livros de história que li se é exagero ou não um
negro se sentir revoltado com o termo “apropriação cultural?”.
Nunca conseguirei falar por esse índio e por esse negro que
não estava lá, mas posso falar pela moradora de favela/periferia/escola pública
que estava lá! A experiência de ver minha realidade sendo estudada e tratada de maneira
até romântica por um ambiente acadêmico me faz sentir um pouco a dimensão do
que é ser um ser invisível na sociedade, o que é acharem que entendem mais
sobre você, de acordo com estatísticas, pesquisas e visitas pitorescas ao seu
habitat natural, do que você mesmo, que vive isso. Nunca fui destratada ou
rebaixada pela minha condição de moradora da periferia (até porque tenho uma
aparência extremamente européia, o que me “camufla”, pois certamente a
experiência de uma garota negra e periférica em um ambiente acadêmico deve ser
muito diferente), mas ver-me sendo estudada, analisada pode ser sentida muitas vezes como grande agressão. Em um
desses cursos, após assistirmos o documentário “Pro dia nascer feliz”, que
trata de escolas de SP, ouvi o comentário “Não acredito que escolas públicas
sejam dessa forma. Afinal, fala-se muito de escolas públicas, mas ninguém nunca
foi lá ver como é!”.
Minha crítica não é a nenhuma instituição, mas aos ambientes acadêmicos como um todo, que tenta incluir ainda de uma
maneira excludente! Esse problema se torna muito maior quando o ambiente
é o da educação. É maravilhoso que haja hoje em dia uma preocupação com o
entendimento sobre “o outro” e a tentativa de incluir essas classes emergentes
e social /historicamente excluídas, normalíssimo então que as visões ainda sejam
estereotipadas.
Não me senti excluída como mulher, mas certamente, há 20
anos atrás, eu me sentiria por ser um cenário muito mais machista e pouco
esclarecido como é agora. Meu pensamento é, por meio de minha experiência,
problematizar ainda mais o fato de que ainda somos invisíveis, ainda somos excluídos,
mesmo agora nos “sendo permitido” ousar invadir um território que até muito
pouco tempo, nunca foi nosso. Por isso
mesmo, creio que seja obrigação nossa, que já estamos lá, abrirmos discursos e
caminhos para que cada vez mais nossa história seja contada a partir de nossas
experiências, de nossas vivências. O
academicismo ainda é branco e elitizado, mas o fato de começarem a se preocupar
com nossas realidades já mostra algum avanço. Cabe a nós agora tomarmos
nosso espaço e nos fazermos vistos, e
não apenas estudados como seres invisíveis.

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