Quando iniciei esse blog (Mais precisamente, o Across the
Universe, que depois se tornou Pensaela, que depois se tornou Pedaços dela e
por fim, o Etérea Essência), eu estava começando o período mais pesado da
depressão, ainda não diagnosticada, por conta de uma experiência traumática que
foi só uma acionadora . A verdade é que já era uma criança triste e negativa,
fui uma adolescente com longos períodos de angústia e vitimista (sempre me
achando a pior, a mais feia, a que sofria mais, etc) e tenho predisposição genética
a problemas como depressão, síndrome do pânico e etc. Meu pai é depressivo e sofreu ataques de
pânico e boa parte da minha família paterna seguiu essa mesma sina. E eu
também.
Nos primeiros dois anos eu não busquei tratamento para
depressão, embora já tivesse feito 6 meses de terapia, que não ajudaram muito.
Não busquei tratamento, uma por estar em crise e não ter forças, outra por não
ter apoio familiar, que dizia “não ter
dinheiro para gastar com as minhas frescuras”. Frescuras estas que eram
basicamente: Não comer e chegar aos 49 kilos (tenho 1,70), não dormir (ou
dormir de mais), não querer ficar sozinha, ter tonturas e náuseas constantes,
sentir que meu corpo não me pertencia e que eu vivia em um sonho, chorar
compulsivamente durante horas, etc. etc. etc. Com o tempo fui melhorando um pouco. Fiz
faculdade, ingressei na igreja, arrumei um namorado. Contudo, tive uma recaída
terrível onde minha mente não parava de pensar (apenas coisas ruins e
absurdas). Fui em busca de tratamento e
meu primeiro diagnóstico foi TOC, depois ansiedade e por fim, Transtorno
depressivo e ansioso. Resumindo o tratamento (que tive de parar por problemas
financeiros), foram 2 anos de terapia e 3 anos de medicação (que abandonei,
como disse, por não ter condições de pagar consultas ao psiquiatra, que são
absurdas de caras).
Escrevi tudo isso, pois relendo trechos do blog, percebo que
ele faz parte desse período específico da
minha vida, então muitas coisas que aqui estão escritas são retratos fiéis de
uma pessoa deprimida, e não necessariamente, meus verdadeiros pensamentos. Vejo
isso hoje, pois tive um pico de melhora muito grande de uns tempos pra cá e muitas
coisas do meu comportamento e pensamento mudaram, coisas que até então, eu
achava que eram características minhas. Noto o quanto estou melhor por :
-Hoje tenho vontade de fazer as coisas. Desde esse início da
fase mais severa da depressão (já fui diagnosticada com grau severo), eu não
sentia prazer e nem vontade de fazer nada do que antes me agradava. Eu
abandonei tudo o que me satisfazia, como leitura, ver séries, me arrumar,
querer sair. Coisas muito simples como levantar e arrumar a cama lavara a
louça, fazer um trabalho de faculdade, eram sacrificantes de mais para mim.
Ainda não me sinto com energia como antigamente, mas para quem não sentia
energia nenhuma, e estando sem medicação, eu realmente melhorei muito!
-Uma coisa que eu dizia sempre para minha psicóloga : “Minha
vida precisa de manutenção, eu tenho que me vigiar o tempo todo”. Eu simplesmente
não sentia prazer nenhum em viver e não queria estar viva, não entendia o
porque de estar viva e me entristecia o fato de estar viva. Eu não acordava e
levava o dia, como todo mundo. Nem passava por uma raiva, um perrengue e depois
estava rindo, como todo mundo. A raridade era eu rir, era eu ver graça nas
coisas, era estar feliz, mesmo conquistando coisas, tendo pessoas que me
amavam, sendo reconhecida pelo meu trabalho, elogiada pela minha beleza. Para
mim, nada disso era importante, era tudo preto e branco. Hoje a minha vida tem
cor, tem graça. Eu brinco rio, me alegro, acordo disposta, vejo a beleza nas
pequenas coisas da vida que há muito tempo haviam desaparecido. Fazer um bolo é
uma vitória, fazer um desenho outra, dormir e querer acordar no outro dia, a
maior de todas.
-Eu não dou mais importância para o que as pessoas pensam de
mim, o que elas dizem a meu respeito, a não ser que sejam pessoas muito próximas
(e muitas vezes, nem essas) . É como se agora eu tivesse poder sobre mim mesma,
eu me conhecesse. Antes, era como se eu fosse aquilo que as pessoas diziam que
eu era. Não questionava, eu era aquilo e ponto! Sofria muito com discussões de
internet, com pessoas que nunca se quer me viram na vida e por notarem que eu
era um alvo fácil, me atingiam e eu me sentia atingida. Agora o que menos me importa é saber se agrado ou não aos
outros. Estou agradando a mim mesma, e isso basta.
-Não sou mais presa ao passado. Algo que me fazia sofrer de
mais, e que eu sempre falava na terapia era “Parece que estou presa sempre nos
mesmos problemas, que minha vida não se atualiza que são sempre as mesmas
dores, que é sempre a mesma coisa, que nada vai mudar nunca!”. Vejo claramente
agora que isso me fazia um mal imenso porque não sou, de natureza, uma pessoa nostálgica.
Não gosto de remoer coisas, guardar lembrancinhas até mofar, viver de memórias,
mesmo que sejam boas. As guardo com carinho, mas não fico as rememorando e
querendo que elas sejam o meu presente. Gosto de ver as coisas fluindo,
caminhando, se renovando, resignificando, e me sentir presa ao passado me
torturava mais do que qualquer outro fator!
-Tive coragem de tomar decisões que mudariam minha vida,
como sair de um emprego que me fazia infeliz, terminar um relacionamento que
minava minha autoestima, dar um tempo e questionar uma doutrina religiosa na
qual sempre abaixei a cabeça e aceitei como certa. Mudei minhas roupas, cortei
meu cabelo, comecei a ir para lugares que nunca tinha ido, fazer coisas que
nunca tinha feito e quero fazer muito mais ainda. E isso é bom, muito bom! Sinto-me
viva!
Claro que ainda sou depressiva e nem sei se um dia deixarei
de ser. Apesar de todas essas melhoras, tenho dias de recaída e esses dias são
pesados, principalmente na TPM. Há dias
que choro o quanto antes, me sinto um lixo como antes, penso que a vida não
vale a pena como antes, mas esses dias
agora são a exceção e não a regra. Além do que, consigo reconhecê-los como “dias
em que estou doente” e talvez precise descansar e tomar um chazinho, como uma
gripe, e não mais como minha personalidade ou minha realidade.
Eu não tenho vergonha de falar sobre esse assunto, nunca
tive, e acho que precisamos falar mais de nossas lutas, nossos problemas e
mostrar aos que estão passando por isso que eles não estão sozinhos e assim
como hoje melhorei muito, eles também irão melhorar, esse período não é eterno,
a vida pode sim mudar, nós podemos mudar! Não estranhem com as mudanças no blog, não
pensem que estou fazendo isso para atrair público e etc. Esse blog nunca teve a
intenção de ser popular e nem comercial, então a popularidade dele nunca foi o
mais importante para mim. Sempre foi um espaço onde eu pudesse ser quem eu sou.
E se estou uma pessoa melhor, pretendo compartilhar conteúdos melhores.

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