terça-feira, 10 de julho de 2012

Escolha pessoal


Como era de se esperar, meu post passado gerou alguns comentários de pessoas muito preocupadas com a minha vida sexual. Achei algo tão ridículo que simplesmente ignorei! A pessoa ainda querer me culpar por ser mulher e ter desejos, usando ainda a minha crença para isso é de uma ignorância tão grande que só o que me fez foi pensar o quão “pobre coitada” essa pessoa deve ser em sua Matrix.
Contudo, encontrei um texto maravilhoso de Aquela Deborah onde se fala sobre sexualidade, virgindade, feminismo de uma forma ampla e esclarecedora (além de bela!). Compartilho com vocês esse texto pois resumo exatamente a forma que eu penso.


Há muitas maneiras de aproveitar o sexo, juntinho com carícias e juras de amor, com a emoção aflorando, um retorno após o desentendimento, aquele delicioso, escancarado, de peito aberto, gemidos, arranhões e até daqueles que tiram sua alma e a devolvem mais leve, trôpega e levemente desorientada. Sexo pode ser um pedaço de transcendência, sentir-se vivo, pulsando dos pés a cabeça ou ainda, um fardo, a monotonia das paredes, a indiferença. Não há como renunciar que praticá-lo é expor além da anatomia: Mostramos nossa corporeidade, a languidez performática na realidade está mais próxima dos pés que se enroscam ao tirar a calça. Imaginar-se como sujeito e objeto do desejo podem gerar medo e constrangimento das incertezas nesse momento cercado por suposições fantasiosas (não raro, falaciosas). O despertar da minha sexualidade não ocorreu no tempo que esperavam de uma mulher comum, o primeiro beijo foi aos 17 (quase 18), não conseguia me aproximar de quem sentia atração temendo que o amor próprio já escasso fosse reduzido a pó. De passos cautelosos diante do piso que range, apresentei-me despida…  e adorei.
Um dos temores que a virgindade desperta é a reação que a nudez causará, antes de fazer sexo acariciamos, abraçamos e aproximamos os corpos o que oferece dados para noção espacial tornando possível imaginar uma “prévia” da silhueta, portanto se você é um sujeito magro não pense que esperarão um torso musculoso ou que por baixo das roupas de uma Betty Ditto se esconde uma Twiggy.
Há contemplação em cada corpo que a sua maneira (pintas atrás das costas, estrias, celulites e cicatrizes), traz demarcações que contam seu trajeto, nesse silêncio aberto de suposições pode ser angustiante quando não sabemos o que passa na mente de quem nos vê, será que miram exatamente o que nos deixa embaraçados? Não há como garantir o que essa nudez despertará, pode ser que tire um pouco do fôlego, pode ser um arrepio, pode ser amor. E são variadas as formas de amar, inclusive por uma noite de quem sequer sabemos o nome. O momento correto é o de maior segurança e conforto (o mesmo vale para o local escolhido), não existe idade limite, há quem realize antes dos dezessete e quem espere mais algumas décadas. “Esperar” é um direito que deve ser respeitado, um dos lemas do Feminismo é a autonomia aos corpos, incluia aí a escolha do momento propício para iniciar, pausar ou interromper a vida sexual. Cabe avaliar o motivo desse adiamento e se trás algum sofrimento, qual sua origem, por exemplo, o medo da rejeição.
Ser virgem é passear pelo Éden enquanto a publicidade da maçã diz que aquele é o pedaço mais sagrado, suculento e indissolúvel da existência, porém, nossos vínculos afetivos ultrapassam a troca de fluidos, somos capazes de amar outras espécies, pessoas que conhecemos on-line e não sabemos o cheiro do corpo e a textura da mão, permanecemos sentinelas se companheir@s adoecem, inclusive se não puderem oferecer a mesma quantidade sexual (a qualidade é subjetiva e continuamente reinventada). Sexo é imaginação e com nossa permissão, concretude, sua recusa, adiamento ou execução devem partir tão somente da prerrogativa pessoal, fazendo valer os desejos ao invés de emular comportamentos que atendam expectativas para que nos considerem dignos de afeição, não há nada mágico em “perder a virgindade”, seu corpo não mudará, não se tornará mais sábi@, não é isso que nos faz criaturas maduras e gentis. Trata-se de uma das possibilidades de sentir prazer, cabe a você usufruir.


Deborah Sá- Fonte: Aquela Deborah

2 comentários:

  1. "autonomia aos corpos"
    crei ser esse o cerne de tudo.

    o texto é primoroso e descreve com propriedade e delicadeza o que defende. Belíssimo. É bem isso.

    Vivemos num mundo razo, na maior amplitude possível da superficialidade, e uma das consequencias disso é o cidadão entender que a única coisa que dá sentido na vida é a penetração. Infelizmente.

    nem me estendo pois o texto já muito disse com destreza. E o mais importante, na visão insubistituível de uma mulher.

    mulheres, senhoras de seus corpos.

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  2. Antes, o tabu era nao ser virgem
    Agora, o tabu , pelo que percebo, e: " vc AINDA nao perdeu a virgindade?"

    ...sem comentários,

    ..;)) bj

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